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MUSICOTERAPIA
MUSICOTERAPIA

Musicoterapia
A raça humana parece ter sempre apresentado interesse sobre como a música é capaz de comunicar, bem como de alterar estados mentais e emocionais. Desde aproximadamente 3000a.C., civilizações orientais cultivam o poder do som e da vibração. As origens da musicoterapia como profissão são da época da II Guerra Mundial, quando a música era utilizada para aliviar a dor, o estresse e a ansiedade de veteranos de guerra. Com a expansão da medicina científica, pesquisadores da Duke University Hospital constataram que o uso de certas músicas e elementos musicais pode aumentar a sensação de conforto, reduzir o medo e a necessidade de sedação para alívio de dor, podendo resultar em uma recuperação mais eficiente. Desde então, estudos vêm investigando através de medidas fisiológicas, relatos de pacientes, familiares e profissionais de saúde envolvidos, além da observação de comportamentos que a musicoterapia combinada ou não com outras abordagens, aperfeiçoa objetivos médicos podendo favorecer a alteração de tônus muscular e freqüência cardíaca, expandir capacidade respiratória, favorecer contato com emoções, afetar humor, aprimorar memória e comunicação, facilitar manejo de estresse e reduzir a percepção de dor.

Em 1950 foi fundada a Associação Nacional para Terapia Musical nos EUA e em 1968, na Argentina, houve a primeira Jornada Latino-Americana de Musicoterapia. No Brasil, os cursos de formação foram fundados em 1971, no Paraná e Rio de Janeiro. Em 1980 a Universidade Federal do Rio de Janeiro iniciou a Prática Clínica da Musicoterapia. A Musicoterapia é uma carreira de nível superior (graduação e pós-graduação) reconhecida pelo Conselho Federal de Educação desde 1978 através do parecer 829/78.

Segundo Edith Lecourt, musicoterapia “é a utilização do som e da música (receptiva ou criativa, gravada ou ao vivo) em uma relação terapêutica para fins reeducativos ou psicoterapêuticos”. Fleshman e Fryear definem musicoterapia como “a utilização da música em ambiente terapêutico para produzir mudanças nos sentimentos e comportamento do paciente.” Segundo a Associação Australiana de Musicoterapia, musicoterapia “é a utilização planejada da música para se atingir objetivos terapêuticos com crianças e adultos que têm necessidades especiais decorrentes de problemas sociais, emocionais, físicos ou intelectuais.”. A musicoterapeuta brasileira, Lia Rejane Barcellos define musicoterapia como “a utilização da música e/ou seus elementos integrantes como objetivo intermediário de uma relação que permite o desenvolvimento de um processo terapêutico, mobilizando reações bio-psico-sociais no indivíduo com o propósito de minimizar seus problemas específicos e facilitar sua integração/reintegração no ambiente social normal.”. Cada cultura encontra sua forma de definir a prática da musicoterapia de acordo com seu sistema de crenças e valores, bem como sua história. A Federação Mundial de Musicoterapia (1996) considera então que musicoterapia “é a utilização da música e/ou seus elementos (som, ritmo, melodia e harmonia) por um musicoterapeuta qualificado, com um cliente ou grupo, visando facilitar e promover a comunicação, relação, aprendizagem, mobilização, expressão, organização e outros objetivos terapêuticos relevantes, no sentido de alcançar necessidades físicas, emocionais, mentais, sociais e cognitivas.”.

  • Musicoterapia, humanização e uti neonatal

Bebês começam a formar um senso de confiança quando suas necessidades são supridas de forma consistente; o que é muito difícil num ambiente de UTI. As expectativas não verbalizadas do bebê de um ambiente seguro, acolhedor e sem dor são geralmente violadas devido à necessidade de um espaço estéril e de procedimentos invasivos que permeiam a sua internação. Tal contexto pode gerar no bebê certo senso de desamparo devido à ausência dos pais e à falta de controle do ambiente que o cerca.


Pais encontram-se mais vulneráveis e se deparam com uma série de necessidades e exigências devido à fragilidade de seu bebê. Validar o trabalho que mães e pais realizam dá a eles sensação de competência, reafirmando seus potenciais necessários para uma experiência positiva.  Pais e mães devem ser encorajados e motivados a cuidar do bebê de acordo com o que é possível e adequado ao contexto em que vivem, bem como devem ser lembrados da importância de cuidarem de si mesmos.


Experiências em musicoterapia podem ser incorporadas no cotidiano do bebê para infundir rotina e oferecer um ambiente confortável de apoio e sustento para a família e o paciente. O bebê é sensível ao componente rítmico que se iniciou no útero com os batimentos cardíacos maternos, o que lhe ofereceu ordem, calma e consistência confortando-o durante a gestação. Quando esses sons são reproduzidos depois do nascimento, observa-se que bebês se acalmam mais facilmente - podem-se utilizar fitas especiais com canções de ninar contendo os batimentos cardíacos gravados simultaneamente, por exemplo.


De acordo com Jan Schreibman, musicoterapeuta do Methodist Children’s Hospital em Indianapolis, Estados Unidos a música é uma intervenção lógica, pois é estruturada e seqüencial. Completa ainda dizendo que se uma melodia com ritmo lento e consistente é introduzida a um ambiente, estimula os que estão presentes nesse ambiente a ficarem mais calmos e seguros. Essa experiência vem comprovando os efeitos benéficos em UTIs neonatais com bebês prematuros.


Pesquisas de satisfação realizadas com pacientes e familiares identificam a necessidade de redução do nível de ruído no ambiente hospitalar. Quando se pensa em utilizar música para esse fim, muitos entendem como contraditório “usar música para reduzir o barulho da unidade ! ?”. É importante destacar a diferença entre ruído e música, sendo o primeiro um som desagradável e insalubre que contribui para aumento de estresse (poluição sonora).

  • Quando inserida de forma apropriada, a música pode elevar a capacidade de concentração, promover conforto, relaxamento e aprimorar a percepção de si mesmo e do entorno.

 

A equipe e familiares presentes na UTI neonatal tendem a prestar atenção maior no tom de voz uma vez que se tem como parâmetro música calma em volume baixo, tocando de fundo.


Através da história, pais vêm confortando e embalando seus filhos com canções de ninar – acalantos repetitivos de melodias calmas e suaves. Atualmente podemos documentar os benefícios que essa ação surte nos bebês. Pesquisas do Dr. Schwartz bem como do Dr. Jayne Standley, mostram que certas músicas – geralmente acalantos cantados por vozes femininas, podendo utilizar também sons intrauterinos de fundo – elevam saturação de oxigênio, favorecem ciclo de sono e vigília e ganho de peso entre os recém nascidos. Ainda notou-se menor irritabilidade e melhora da capacidade de sucção. O conceito de que ouvir música pode minimizar o desconforto do bebê traz alívio e confiança para pais que assistem seu bebê passar por vários procedimentos e ser conectado a maquinas e monitores. Poder contar com esse recurso para confortar seus bebês faz com que os pais sintam-se mais calmos, o que consequentemente contribui para equipe mais calma e ambiente mais acolhedor.

 

  • Musicoterapia, humanização e pediatria


A criança naturalmente sente-se atraída por brinquedos e instrumentos musicais e no contexto hospitalar pode utilizá-los para elaborar e integrar as experiências lá vividas. Tocar instrumentos, criar canções e interagir através da música também favorece a socialização e eleva a auto-estima das crianças, que apesar de fisicamente fragilizadas podem se sentir emocionalmente fortalecido através do exercício da atividade criativa, elaborando simbolicamente sua vivência.

Durante procedimentos e exames, a criança pode distrair-se ludicamente e assim, melhor tolerar o processo de tratamento. Entretanto, McCaffery refere que “possivelmente, distração é de grande valia para o paciente com dor somente durante o período em que está sendo utilizada. Não se percebe resquícios de eficácia, uma vez que a distração termina” (1992).

 

A musicoterapeuta Dra, Joanne Loewy a partir dessa afirmação desenvolveu a técnica que nomeou de “integração”, visando promover melhor enfrentamento. Tal estratégia surge para complementar os efeitos dos analgésicos, bem como para facilitar procedimentos invasivos dolorosos, e tem sido utilizada no tratamento de crianças com dor crônica e/ou aguda, no Hospital Beth Israel, em Nova York, podendo ser uma alternativa para a distração conforme seus efeitos mostram se prolongar além do tempo real de tratamento. Enquanto a distração procura desviar a atenção da criança no momento de dor, a integração auxilia a criança a ficar atenta ao seu corpo através da concentração na respiração, batimento cardíaco, intenção emocional, e ressonância. A música é utilizada para se integrar essas quatro áreas com harmonia, ritmo e síntese tonal, fortalecendo a criança no momento de dor crônica ou aguda para que ela compreenda e tome controle do desconforto e da aflição. Também pode ajudar a criança a reconhecer como o componente físico específico da dor, é sentido, e como se desencadeiam os afetos e sua capacidade motivacional de funcionamento. Esta estratégia ainda oferece a oportunidade de elaboração simbólica que a atividade lúdica contém, porém no contexto da criação musical. 

Diante da sensação de uma dor curta e repentina a tendência humana é descarregar intensamente através do som; exclamações tais como “ái” e “úi”, são bem comuns. “De alguma forma, essa exclamação nos tira da agonia temporária.”, explica Dra. Loewy em seu livro, Pediatric Pain. A criança em dor aguda, geralmente busca uma oportunidade para descarregar a dor. Tocar tambor e/ou entoar num volume relativamente alto, de forma improvisada pode ajudar a criança a integrar a dor através da vibração. Não é necessário dizer que a música que ocorre em uma sessão desse gênero nem sempre será considerada esteticamente bela. 


O impacto de musicoterapia durante procedimentos pode ser refletido na transição curta que uma criança leva para retornar para suas atividades normais. A criança pode adquirir maior tolerância e expandir seu leque de opções para melhor lidar com procedimentos invasivos futuros. Um objetivo significativo é o de minimizar a interrupção que a dor e a hospitalização podem causar ao processo de desenvolvimento de uma criança. 


A musicoterapia permite que a criança expresse seus sentimentos e sensações livremente, de forma continente, estruturada e organizada através da criação musical. Tal movimento permite a ela maior percepção de si mesma, e acesso a recursos internos mais adaptados para lidar com a situação de doença que vive. 

Além de oferece segurança e continência para lidar com a dor, outras técnicas utilizam composições e improvisações que podem comunicar à equipe e família as fantasias e sentimentos da criança, facilitando a interação de todos os envolvidos. 


Musicoterapia, humanização e o paciente oncológico


Existe uma associação inerente de canção com contato humano. Cantar canções oferece possibilidade para comunicação, bem como elaboração de sentimentos relacionados ao processo único de cada paciente. O uso de canções em musicoterapia com pacientes com câncer e seus familiares oferece apoio e meios para melhor lidar com o processo de tratamento e suas implicações. O musicoterapeuta desenvolve um ambiente de confiança e conforto, assistindo familiares e pacientes a definir o que esperam, querem e precisam para se fortalecerem emocionalmente. As letras das canções expressam de forma melódica muito dos conteúdos internos do paciente, que através de palavras de um outro, o compositor, pode falar de suas fantasias de forma indireta e protegida, ao mesmo tempo em que acessa emoções através da melodia.

Um dos objetivos da musicoterapia pode consistir em alimentar processos que possam acessar recursos de enfrentamento antes não disponíveis, inconscientes, canalizando-as para criatividade, expressão pessoal e elaboração da vivência, além de facilitar o alivio da dor e promover o conforto físico. Muitas vezes o paciente encontra dificuldades para relaxar e, ao ouvir um acalanto, consegue ampliar sua capacidade respiratória e repousar com mais facilidade. 

No Memorial Sloan-Kettering Cancer Center, em Nova York, a musicoterapeuta Lucanne Magill Bailey oferece escolha de canções para pacientes com câncer e seus familiares. O conteúdo das canções escolhidas é significativo, uma vez que pessoas escolhem cantar ou escutar canções que abracem suas necessidades e/ou que transmitam a emoção e a mensagem relacionadas ao que estão vivendo. Tais conteúdos freqüentemente refletem desejos e memórias importantes. Sendo assim, o musicoterapeuta pode utilizar as mensagens verbais das canções para explorar pensamentos e sentimentos não ditos de outra forma. O paciente e seus familiares geralmente, experimentam menos solidão e isolamento como resultado de uma comunicação mais íntima entre as pessoas e suas vozes. A resposta interna ocorre seja com a pessoa cantando ou ouvindo. Compartilhar canções aumenta o contato íntimo entre as pessoas envolvidas e dessa forma, a combinação de contato humano e apoio profissional podem diminuir o sofrimento presente.

 

  • Musicoterapia, humanização e o paciente em hemodiálise

Durante a hemodiálise o paciente permanece por horas confinado a um espaço, juntamente com outros pacientes que enfrentam a mesma situação. A música, inserida neste contexto, oferece a oportunidade para alívio de estresse ao mesmo tempo em que promove socialização. 


Promover uma atividade musicoterapêutica, como compartilhar canções, estimulando a participação do grupo seja tocando instrumentos e/ou cantando favorece bem estar e oportunidade para reminiscência, resgate de identidade e auto-estima. O acolhimento por parte de um grupo favorece adesão ao tratamento, contribuindo para a qualidade de vida do paciente, não sendo, simplesmente, uma distração para pacientes e profissionais de saúde presentes, mas também oportunidade para melhora de comunicação entre eles, fator primordial de humanização.

  • Considerações finais

O processo de humanização da medicina é uma necessidade apontada por todos os envolvidos; pacientes, familiares, enfermagem, equipe multidisciplinar e médicos. Humanizar é cuidar do paciente de forma integral, incluindo o contexto familiar e social, respeitando valores, culturas e crenças.  


Atualmente, diversos hospitais no mundo contam com o atendimento da musicoterapia, e nota-se a capacidade de expansão e adequação de técnicas e estratégias de acordo com a instituição e as unidades de atendimento (ex: pediatria, neurologia, UTI, etc.). Existe um número crescente de trabalhos científicos que respaldam a importância e a contribuição de tal serviço, bem como relatos de pacientes e profissionais de saúde envolvidos que confirmam os benefícios que as estatísticas assinalam.

 

A musicoterapia, no contexto hospitalar conforta, acolhe e fortalece o paciente, favorecendo a elaboração da vivência de internação do paciente, humanizando relações e humanizando, sobretudo o cuidar. 

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